No mesmo universo de ‘A Mão Esquerda da Escuridão’, é hora de conhecer Shevek
Por Guilherme de Moraes Corrêa
Em ‘A Mão Esquerda da Escuridão’, Ursula K. Le Guin, a aclamada escritora de Ficção-Científica que levou o prêmios Nebula (1969) e Hugo (1970), trouxe um universo totalmente distópico e tudo sobre um futuro que nós estamos vivendo hoje.
E não foi diferente em ‘Os Despossuídos’, ela tem uma complexidade de criar um personagem revolucionário, solitário, reprimido, diferente da maioria dos outros ao redor dele, é o que acontece com o físico Shevek.
Shevek é um brilhante físico de Anarres, que vai para o seu planeta gêmeo/de origem, Urras e sua missão é uni-los, mas o que dificulta as coisas é que seu planeta Anarres, os anarretis, são colonizadores/fugitivos, que são por natureza, uma utopia anarquista. Já, Urras, os urrastis, são uma civilização de riqueza e tecnologia, mas também com muita pobreza de guerras.
Anarres é um planeta onde os indivíduos de ambos sexos: mulheres e homens são iguais, tem nomes sem gênero, então o futuro leitor vai sentir uma boa dificuldade de identificação de quem é homem e quem é mulher.
Neste planeta, todos trabalham igual, não tem diferenciação de trabalho, as mulheres são como homens (nessa parte, comparei com mulheres-homens, que no nosso mundo são as Transsexuais, mas lá, é diferente, não existe preconceito, lá é aceito por todos os homens, sem preconceito), inclusive as mulheres trabalham mais do que os homens, os homens são mais ‘donas de casa’.
Os anarretis vivem no limite, uma anarquia, vivem atrás do muro que separa de Urras, são separados por décadas de desconfiança, pois as coisas estão preste a mudar, Shevek é mandado para construir uma nova teoria de como mudar ambos e uni-los, só que a missão carrega questões de anarquia e capitalismo: a crítica social.
Os Urrastis, tratam ele com todo respeito, de ‘igual para igual’, apesar de ser Anarresti, trazendo ele só na parte da riqueza da cidade, escondendo a guerra e a pobreza. E lá, só os homens trabalham muito, as mulheres fazem exatamente o que querem, dão total apoio aos homens, sendo proprietárias deles e não se sentem inferior, da forma mais estranha (comparei com a época que as mulheres eram apenas objeto e donas de casa, aqui na Terra, antes das revoluções).
E além disso, não tem família tradicional como nós, eles tem um período onde as mulheres são livres para ser de quem elas sentirem-se atraídas, sejam de ambos os sexos, tem família, mas são livres, as mulheres usam seus anticoncepcionais para não engravidar no período de copular.
Diferente de Anarres, lá todos são de uma estrutura familiar, ditos como irmãos, mais livres, as crianças quando atingem uma idade, após amamentação com a mãe, não dormem mais no alojamento com a mãe ou pai, dormem em um tipo de abrigo, por ser uma sociedade anarquista.
O físico Anarres, vai para Urras e aprende fácil a linguagem deles, apesar da dificuldade no começo, por ter uma linguagem complicada, em právico, eles falam em 3ª pessoa, quando direcionam para alguém, mas está falando de si mesmo, em 1ª pessoa e acaba trazendo ao leitor a ideia de ficção-científica de uma linguagem alienígena.
O desenrolar, a trama, a solidão do Shevek em um planeta, longe dos seus irmãos e perto dos seus iguais, chegam a ser semelhantes, ele é diferente dos outros, por carregar uma teoria anarquista que não pode ser entregue só de um lado, tem de fazer revoluções em ambos.
O legal da história, é que a questão de família, sexo, diversão, trabalho, anarquia, capitalismo é tão distorcido em ambos os planetas gêmeos que para questionar o inquestionável para derrubar o muro de ódio que divide os planetas-gêmeos é de menos, pois existem muros e muros depois deste, metaforicamente explicando.
Shevek é um personagem complexo, complicado, anarquista, solitário na maior parte do tempo, acredita na esperança de paz e acabar com essa divisão e não ao mesmo tempo. E seu ‘coração possuído’ é tão forte e romântico como o seu ‘coração despossuído’ por Takver, mulher anarresti e sente uma atração muito forte por seu amigo Bedap com quem tem um relacionamento social e sexual, apesar de ser heterossexual e Bedap homossexual, ambos copularam por necessidade um do outro.
E em Urras, ele tem outra família, outra esposa, outra filha, mas não sente o mesmo, quando está do Takver e sua filha Sadik e o lance dos nomes são escolhidos por máquinas em Anarres, o que deixa bastante a ideia de comportamento estranho. E a matemática do físico brilhante faz com que sua teoria leve ele para questões sobre equilíbrio, ordem, comparando com as estrutura das palavras que deixam as ideias distorcidas, mas que são capazes de encontrar o equilíbrio.
O que é bonito nessa obra-prima, vencedora dos prêmios Nebula e Hugo, é que a Ursula tem uma escrita brilhante, diferente dos autores clássicos de ficção-científica, apesar dela ter sido inspirada neles, ela tem uma originalidade incomparável, seus personagem, seus planetas, seus alienígenas tão bizarros e humanos são prova de que o futuro que vivemos hoje é o futuro que ela construiu, metaforicamente escrevendo e analisando.
O ‘Café, Bate-papo e Cultura’, convida o futuro leitor conhecer essa obra-prima e recomenda ler também ‘A Mão Esquerda da Escuridão’, já que o ‘Os Despossuídos’ se passa no mesmo universo, pois ambos se encontram na mesma estrutura de filosofia da ideia de personagens revolucionários, incríveis e inspiradores de certa forma: distorça a ideia de homem e mulher, sendo um Andrógino e seja um indivíduo revolucionário, livre de coração isolado e despossuído! (Seja livre!).
Conheça um pouco mais de ‘A Mão Esquerda da Escuridão’ (crítica):
http://condenadosporlivros.blogspot.com.br/2015/08/especial-mao-esquerda-da-escuridao.html
Veja as fotos e alguns trechos que o crítico (Eu) peguei para complementar e argumentar:
Vamos pro universo dessa autora tão amada, depois do espetacular ‘A Mão Esquerda da Escuridão’ da Ursula K. Le Guin, vamos conhecer ‘Os Despossuídos’ em grande estilo… 🚀🤖👽🌎😱😍😀 @editoraaleph
‘O bebê ainda não a perdoara. Ele soluçava, apertando o pescoço do pai, na escuridão do sol perdido.’ – Os Despossuídos @editoraaleph 🌎🚀👽😱😍
‘ – Tenho certeza. O que os homens querem é liberdade. O que as mulheres querem é propriedade. Elas só o libertam se conseguirem trocá-lo por outra coisa. Todas as mulheres são proprietárias.’ – Os Despossuídos @editoraaleph
‘O Paraíso é para os que constroem o Paraíso. Ele não fazia parte daquilo. Era um desviado, de uma raça que renegara o seu passado, a sua história.’ – Os Despossuídos @editoraaleph 🌎😱🌎
‘Perdeu peso; caminhava leve pela terra. Falta de trabalho braçal, falta de variedade de ocupações, falta de relações sociais e sexuais, nada disso lhe parecia falta, mas liberdade. Era um homem livre; podia fazer o que quisesse, quando quisesse e por quanto tempo quisesse. E fazia. Trabalhava. Trabalhava/se divertia.’ – Os Despossuídos @editoraaleph
‘Faltava algo – nele, pensou, não no lugar. Ele não estava à altura. Não era forte o suficiente para aceitar o que lhe era oferecido com tanta generosidade. Sentia-se seco, árido, como uma planta do deserto, naquele lindo oásis. A vida em Anarres o fechara, trancara sua alma; as águas da vida jorravam à sua volta e, no entanto, ele não conseguia beber.’ – Os Despossuídos @editoraaleph
‘Chegaram mais perto um do outro. Shevek virou-se de bruços e dormiu em dois minutos. Bedap lutou para manter a consciência, entregou-se ao calor mais profundo, à vulnerabilidade, à confiança do sono, e dormiu. No meio da noite um deles gritou, sonhando. O outro estendeu o braço, sonolento, e murmurou algo tranquilizador, e o peso cego e quente daquele toque suplantou todo o medo.’ – Os Despossuídos @editoraaleph ❄🔥🚀🌎👽😱😍
‘ – Quando se vê uma coisa por inteiro, a distância – ele disse -, ela sempre parece bonita. Planetas, vidas… Mas, de perto, um mundo é feito todo de terra e pedras. E, dia após dia, a vida é um trabalho árduo, você se cansa, perde a perspectiva. Você precisa da distância, do intervalo. O jeito de ver como a terra é bela é vê-la como a lua. O jeito de ver como a vida é bela é vê-la da perspectiva da morte.’ – Os Despossuídos @editoraaleph
‘ – Queria saber se a mulher urrasti se contenta em ser sempre inferior.
– Inferior a quem?
– Aos homens.
-Ah… isso! O que o faz pensar que sou inferior?
– Parece que tudo o que a sua sociedade faz é feito para os homens. Indústria, artes, administração, governo, decisões. E por toda a vida vocês carregam o nome do pai e do marido. Os homens vão para a escola e vocês não; todos os professores, juízes, policiais, governantes são homens, não são? Por que vocês não fazem o que querem?
– Mas nós fazemos. As mulheres fazem exatamente o que querem. E não precisam sujar as mãos, nem usar farda, nem ficar gritando para lá e para cá nas diretorias para fazerem o que querem.
– Mas o que é que vocês fazem?
– Ora, nós conduzimos os homens, é claro! E, sabe, é perfeitamente seguro dizer isso a eles, porque eles nunca acreditam. Eles dizem “Ha, ha, mulherzinhas engraçadas!”, passam a mão na sua cabeça e saem pomposos, com suas medalhas tilintando, perfeitamente satisfeitos.
– E você também está satisfeita?
– Decerto que sim.’ – Os Despossuídos @editoraaleph 👽🌎🚀😍😱🔥😑
‘Por que eles virão atrás de você como cães atrás de um coelho no momento em que descobrirem que você fugiu. Não é só porque eles querem essa sua ideia. Mas porque você é uma ideia. Uma ideia perigosa. A ideia do anarquismo, em carne e osso. Andando entre nós.’ – Os Despossuídos @editoraaleph 😱👽🌎🚀🌎👽
‘ – Nós dois somos alienígenas aqui, Shevek – ela disse, enfim. – Eu de um lugar muito mais distante em espaço e tempo. No entanto, começo a achar que sou muito menos alienígena em Urras do que o senhor… Deixe-me falar como vejo este mundo. Para mim, e para meus companheiros terranos que viram o planeta, Urras é o mais agradável, mais variado e o mais belo dos mundos habitados. É o mundo que mais se aproxima do Paraíso.’ – Os Despossuídos @editoraaleph 😱👽🚀🌎🤖
‘Antes de saírem de órbita, as vigias se preencheram com o turquesa nublado do planeta Urras, imenso e belo. Mas a nave virou e as estrelas surgiram, e Anarres no meio delas, como uma pedra redonda e brilhante: movendo-se sem se mover, jogada quem sabe por que mão, girando eternamente, criando tempo.’ – Os Despossuídos @editoraaleph 🌎👽🚀🌎
Genly Ai + Shevek = Em um mesmo universo, histórias diferentes… E livros diferentes… Ambos revolucionários! @editoraaleph 😍👽🚀🌎🤖
A próxima resenha é do livro:
‘O homem saiu para encontrar outros mundos, outras civilizações, sem saber nada sobre seus próprios recessos, ruas sem saída, poços e portas bloqueadas e escuras.’ – Solaris @editoraaleph 👽🚀🌎😱
“Espero que tenham gostado, pois eu adorei, espero que os futuros leitores também procurem seus exemplares nas livrarias mais próximas e leiam, pois é tão boa que você jamais vai esquecer, assim como eu não esquecerei…”