Soundtrack – Uma surpresa agradável e revigorante

Filme estrelando Selton Mello e Seu Jorge chega aos cinemas mostrando todo potencial e qualidade das produções nacionais

por Renato Cordoni

Com a intenção de realizar um experimento artístico, o fotógrafo Cris (Selton Mello) viaja até uma estação de pesquisa polar para se isolar e tirar fotos que capturem as sensações causadas por uma série de músicas selecionadas por ele. No local, ele conhece o botânico brasileiro Cao (Seu Jorge), o especialista britânico em aquecimento global Mark (Ralph Ineson), o biólogo chinês Huang (Thomas Chaanhing) e o pesquisador dinamarquês Rafnar (Lukas Loughran). Os cinco precisam conviver juntos e descobrem diferentes perspectivas sobre a vida e arte.

Essa é a sinopse de um filme nacional completamente fora dos padrões do cinema brasileiro, legendado e que a priori deixa um ponto de interrogação flutuando e questionando “até onde essa ideia pode funcionar? ”; e no fim das contas funciona MUITO BEM!

Uma viagem para o Ártico e pelas emoções

Talvez seja o fato de se passar em um ambiente inóspito, ‘vazio’ e nada atrativo, ou então a proximidade – pode-se dizer até afeição – que cresce com relação aos bravos pesquisadores (Cao, Huang, Mark e Ragnar) e o fotógrafo Cris, conforme a história vai sendo desenvolvida; não dá pra dizer ao certo o quê, mas algo – talvez a soma disso tudo – faz de Soundtrack o tipo de filme que transporta o telespectador para o seu mundo, faz com que as emoções, sensações e angústias sejam sentidas da maneira mais próxima e ‘íntima’ possível.

Chega um momento no filme onde aquelas pessoas que estão isoladas no Ártico – cada um com sua função, suas razões, histórias e diferenças –, são como amigos ou família. Suas conquistas, frustrações e indagações passam a fazer cada vez mais sentido para o telespectador e a forma como se relacionam e tentam entender suas diferenças, a maneira como isso se desenvolve, é muito bem trabalhada.

Roteiro profundo e intrigante

Para quem lê a sinopse, inicialmente o filme pode parecer bem despretensioso, até mesmo uma historinha ‘sem-graça’, mas conforme Soundtrack vai se desenrolando, o que se vê é um roteiro muito bem escrito, intimista, que aborda o ser-humano no seu âmago, seus questionamentos – como lidar com frustrações, isolamento, relações – e até mesmo a questão de a arte ser vista como algo ‘menor’ comparada à ciência.

Todas essas questões emocionais, somadas ao extremo isolamento do Ártico e cinco pessoas completamente diferentes tendo que lidar umas com as outras ao mesmo tempo que lidam com seus próprios problemas; um intenso vórtice de emoções.

Trilha sonora e efeitos especiais ‘Hollywoodianos’

Algo que realmente impressiona é saber que todo o cenário do Ártico, nevasca, quebra-gelo etc. são frutos de efeitos especiais. As gravações foram feitas no Brasil, os atores não precisaram viajar para externas e, quem assistir ao filme, dificilmente irá notar a diferença.

Já a trilha sonora é um espetáculo à parte! Músicas selecionadas a dedo, onde cada uma delas funciona perfeitamente em todo o processo emocional e de imersão que é o longa.

Surpreendentemente intenso

Um filme que foge completamente de tudo que o cinema brasileiro atual vende. Ousado, diferente, emocional; algo que dificilmente se vê sendo produzido em termos nacionais e talvez justamente por isso – e pelo simples fato de ser legendado – não tenha tanto espaço ou popularidade com o grande público.

Independente do preconceito ou da preguiça que exista por aqui com longas desse tipo, Soundtrack é a prova de que o cinema nacional – atores, diretores, produtores – é extremamente capaz de produções dignas e de teor artístico muito maior do que violência gratuita ou humor pastelão o tempo todo.

Soundtrack estreia nos cinemas dia 06 de julho.

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